Thursday, May 26, 2005

Distanásia

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[Fig.]

Hoje, num momento de reflexão acerca do doente oncológico ocorreu-me o termo distanásia.
Lembrei-me duma doente em estadio avançado da sua doença oncológica. Apresentava várias complicações entre as quais, trombocitopenia. Por esse motivo, os hematomas eram numerosos e as hemorragias frequentes. Surgiu então, como indicação terapêutica, a administração de Plaquetas. Para a sua administração, era necessário recorrer a técnicas invasivas que, por sua vez, também aumentavam o risco de hemorragias.
Foram feitas várias tentativas, por parte dos profissionais, para se cateterizar uma veia periferica mas os edemas e os hematomas impediam a sua visualização e localização. Após várias tentativas, a doente manifestou-se saturada e já não aguentar tanta picada, apesar disso, os profissionais continuaram a insistir e inclusivamente recorreram ao desbridamento para a localização da veia. Finalmente as plaquetas perfundiram.
Eu fiz parte da equipe que tentou em vão a punção da veia periférica. Ainda tenho bem presente o estado debilitado e o sofrimento aparente da doente. Infelizmente faleceu cerca de 12 horas após a perfusão das plaquetas. Mais um insucesso do esforço dos profissionais de saúde, mas não teria sido mais digno termos desistido mesmo antes da doente ter dito que já não aguentava mais? Relembro que a doente se encontrava numa fase terminal.
O desenvolvimento tecnológico em saúde tem contribuido, em muitos casos, para um aumento da longevidade do ser humano, muitas vezes às custas de grande sofrimento do doente. A distanásia tem sido muitas vezes praticada pelos profissionais de saúde, sem ser reconhecida como tal.
No artigo Distanásia: Até quando investir sem agredir? pode ler-se que, "(...) temos muito mais conhecimento que tínhamos anteriormente. Mas este conhecimento não tornou a morte um evento digno. O conhecimento biológico e as destrezas tecnológicas serviram para tornar nosso morrer mais problemático; difícil de prever, mais difícil ainda de lidar, fonte de complicados dilemas éticos e escolhas dificílimas, geradoras de angústia, ambivalência e incertezas". Para além de manifestar o meu acordo com este autor por esta expressão, concordo também com a frase por ele citada, "É melhor a morte do que uma vida cruel, o repouso eterno do que uma doença constante", sem no entanto, ser adepta das práticas de eutanásia.

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